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I’m working on a verse translation of the Odyssey into (Brazilian) Portuguese. While many (inventive) verse translations already exist, mine is different for two (related) reasons: first, it is inspired by and remade into the style of cordel literature, a type of regional, popular literature, which is related to the oral tales improvised by repentistas (our own rhapsodes).
Secondly, I offer a rhymed translation - to my knowledge, there’s no rhymed translation into Portuguese (Brazilian or otherwise). To impress the typical musicality of cordel, I follow the meter known as martelo agalopado: ten poetic syllables, the third, sixth and tenth syllables being stressed. My language is - in cordel fashion - poetic and popular: full of regional, popular expressions, apocopations, and other imitations of everyday diction.
I’m prepared to do my own presentation.
Odisseia, I vv. 1-44
Conta, Musa, a história de hômi errante,
que, depois de arrasar sagrada Troia,
se perdeu por lá-e-cá, longidistante.
Povos viu, conheceu suas tramoia’;
n’ alto mar amargou muitos pesares;
pelejou por s’a vida, a dos seus pares,
pelejou p’ra voltar c’os co’panhe’ro’,
mas, por mais que tentasse, eles morrero
- pereceram por conta de pecado.
Idiotas! Comeram todo o gado
pertencente a deus Sol que se alevanta,
que tomou-lhes o dia tão sonhado.
Donde tu, fi’a de Zeus, quiseres, canta!
Os heróis ‘tavam todos em seus lares,
de completa ruína s’ esquivaro,
fosse bélica, fosse pelos mares.
Todos, não: menos um, ao desamparo,
que bem quis retornar à sua mulher;
que Calipso prendeu, pois tanto quer
desposá-lo, sublime ninfa, deia:
as cavernas profundas, sua cadeia.
Sucederam-se os anos, ano veio
em que deuses traçaram o arrodeio
rumo a Ítaca, casa de seus pares,
mas nem lá escapou dos aperreio’.
Tinham dó todos deuses, se um salvares:
Posseidão, odioso de Odisseu,
só calmou quando à pátria ele volveu.
Posseidão foi-se ter longe p’ra peste:
nos confins, num país partido em dois,
Etiópia do oeste, e a do leste.
Fora lá pra comer carneiro e bois,
sacrifício servido num banquete.
Agrupados, nestante, em palacete
que é de Zeus, pai dos deuses e da gente,
estão todos os deuses. Em sua mente,
Zeus se lembra de bem-nascido Egisto,
quem Orestes matou, o fi’de Agameno.
Zeus Olímpio começa c’um registo,
dirigindo-se aos númenes, dizen’o:
“Arre-égua! Os mortais nos recrimina’,
remetendo maldade toda a nós,
mas os próprios incorre’, além da sina,
em pesares causados por si sós;
vede o caso de Egisto: além da sina,
se casou c’a mulher do fi’ de Atreu,
também foi causador da sua ruína,
muito embora soubesse do fim seu
- afinal, intimamo-lo nós, divos,
na figura de Hermes Argicida,
de que não fosse d’ homem homicida,
nem mulher visse c’ olhos abusivos;
‘a revanche virá por mãos de Orestes,
ao, saudoso de casa, ele estar prestes
a virar moço’ - Hermes o alertara,
com motivos dos quais não há mais puros,
mas Egisto em seu peito duvidara
- como não o escutou, pagou com juros